“BUFÊ ESPIRITUAL” – LITURGIA DE 4 DE JANEIRO DE 2025
4 de janeiro de 2025“BUFÊ ESPIRITUAL” – LITURGIA DE 5 DE JANEIRO DE 2025
5 de janeiro de 2025Imagine um chaveiro que não apenas faz cópias, mas que cria chaves para abrir portas em locais onde não se vislumbra haver porta alguma… Ou um óptico que cria lentes apropriadas para apreciar as coisas mais intrincadas com acuracidade, permitindo lidar com elas de forma muito mais acertada, retirando o embaçamento que leva a errar o alvo, a desviar o foco, enfim, a precarizar a atuação e consequentemente gerando problemas e mais problemas…
De forma semelhante a esse chaveiro e a esse óptico imaginários, aprenderemos com o protagonista a criar chaves hermenêuticas para abrir portas em situações existenciais intrincadas e a criar lentes que ajudam a desembaçar o entendimento para lidar de modo muito mais eficaz com as mais diversas situações.
Chaves hermenêuticas são formas de compreender aspectos da realidade ou de um campo de estudo. Funcionam como filtros, estabelecendo critérios e formando como que lentes com as quais se aprecia algo. E, conforme as compreensões que se tem, se tomam atitudes em uma ou em outra direção, considerando-se acertado fazer ou conceber o que as chaves hermenêuticas assinalam.
Na jornada da vida, em muitas circunstâncias, nos deparamos em verdadeiros labirintos existenciais, por nos desviarmos dos melhores caminhos devido a ilusões com chaves hermenêuticas precárias, que levam a discernimentos equivocados, produzidos por devaneios e elocubrações fantasiosas que dão a impressão de serem “as coisas mais acertadas do mundo”, mas que na realidade consistem em armadilhas traiçoeiras. Observa-se ao longo dos episódios que seguem que mudanças de percepção a partir de chaves de hermenêuticas mais adequadas levam a mudanças de atitude e essas, por sua vez, passo a passo, à transformação da vida.
Aprenda nas páginas que seguem a trocar as chaves hermenêuticas e perceba como as mudanças que elas proporcionam nas formas de compreender as realidades – com consequentes ajustes nos filtros ou lentes com que se as aprecia – podem produzir resultados surpreendentes.
O caso da posse do imóvel – troca de chave hermenêutica que resolveu celeremente uma situação extremamente delicada
Um excelente exemplo que ilustra com “começo, meio e fim” um processo de mudança de chave hermenêutica com surpreendentes resultados gerados em tempo recorde – e elucida com muita clareza o quanto mudanças nas formas de compreender a realidade podem mudar os resultados das situações – se extrai do caso em que o hermeneuta foi solicitado a auxiliar o casal de amigos Alcides e Roberta em um episódio extremamente delicado.
Atuantes no ramo imobiliário, construindo e vendendo imóveis, estavam em um processo de finalização da venda de uma casa e numa sexta-feira pela manhã um potencial comprador os procurou para fechar um negócio, dispondo-se a pagar uma quantia razoável a mais pela casa, desde fosse suprimido o valor da entrada. Argumentou que tinha negócios para fechar e que no prazo de seis meses estaria tudo resolvido, por isso se dispunha a pagar a quantia a mais, dali a seis meses.
Alcides e Roberta ficaram de pensar a respeito, a proposta era muito tentadora. O potencial comprador mostrou-lhes o mapa de um loteamento que, segundo ele, tinha em parceria com a maior imobiliária da cidade. Parecia um excelente empreendimento e dava a entender que geraria uma excelente rentabilidade – mas precisava de um certo tempo para produzir os resultados.
Ainda na sexta-feira, à tarde, esse potencial comprador entrou em contato com Alcides e pediu-lhe as chaves da casa para mostrar à esposa. Foi feito como ele pediu. Ele não veio devolver as chaves e Alcides somente comunicou à esposa no outro dia de manhã a respeito desse pedido. Ela então comentou que durante a noite pensou muito a respeito e que não lhe parecia razoável realizarem a venda sem nenhum valor de entrada. E decidiram que não fariam aquele negócio.
Alcides entrou em contato com o potencial comprador comunicando a decisão de não consumar a venda e pediu-lhe que devolvesse as chaves. A resposta que obteve:
– Minha esposa adorou a casa, já fizemos a mudança!
Alcides protestou, afirmou que não era o que tinham combinado, mas o suspeitíssimo comprador contra-argumentava de mil formas…
O casal então acionou Hermeneto, que lhes pediu para apresentarem o caso com todos os detalhes. Inteirado da situação, perguntou:
– O que vocês consideram apropriado fazer?
– Tendo em vista que ele se encontra na posse do imóvel, considero que o mais acertado é a gente trabalhar com a persuasão, com muito cuidado, pois ele se encontra em uma posição estratégica altamente favorável – respondeu Roberta.
– Sinto muito, mas ao que tudo indica, o que ocorreu é fruto de um planejamento muito bem feito, com requintes de manipulação… Me parece que se trata de uma armadilha arquitetada de forma que ele possa residir na casa de vocês por seis meses e, ao final do período, caso não consiga comercializar os supostos terrenos que diz ter para vender, simplesmente vai alegar que não conseguiu e vocês não terão o que fazer… Se foi algo planejado – e tudo indica que o seja – não vai resolver nada argumentar, tentar persuadir o sujeito – arguiu Hermeneto.
– Eu pesquisei o histórico jurídico dele, tem vários processos por esbulho e turbação de imóveis…
– O que é esbulho e turbação? – perguntou Alcides. A esposa elucidou:
– No esbulho ocorre a privação ilegal e total da posse do bem, restando seu legítimo proprietário impossibilitado de usar e controlar o que é seu, cabendo, nesse caso, mover ação de reintegração de posse. Já no caso de turbação, ocorre a privação ilegal parcial da posse com atitudes que impedem ou dificultam o uso e controle do bem pelo proprietário, cabendo mover ação de manutenção de posse.
– Bah, que enrascada… Teremos então que acionar a justiça? – interpelou, desolado, Alcides.
– É por isso que eu pensei em dialogar com ele, usar a persuasão… Como disse, ele está em uma situação muito favorável, está na posse do imóvel… – redarguiu Roberta.
Enquanto o casal dialogava, Hermeneuto refletia a respeito da lente apropriada para compreender com a maior clareza possível o que estava ocorrendo para então encontrar a chave hermenêutica aplicável mais apropriada à resolução da situação.
Reiterou que a chave hermenêutica vislumbrada por Roberta, de tentar persuadir o sujeito, provavelmente não funcionaria, pois a lente com que estava apreciando a situação estava eivada de um grave “ponto cego”, semelhante ao que ocorre quando se está dirigindo um automóvel e não se consegue observar o que está atrás da coluna entre o parabrisa e o vidro lateral – causa comum de acidentes com ciclistas e motociclistas. Eis o ponto cego: estavam lidando, pelo que tudo indicava, com um contumaz perpetrador de turbações e esbulhos. A pesquisa processual realizada não deixava margem a dúvidas a esse respeito: tudo foi planejado e não haveria argumento capaz de demover o golpista – ele não recuaria em seus intentos. Roberta aquiesceu:
– O senhor tem razão… Tudo indica que já realizou operações semelhantes, é flagrante o vício, a malícia, a intenção de usufruir do alheio se eximindo de consequências legais a partir da manobra astuciosa que perpetrou.
Hermeneto perguntou ao casal:
– Vocês têm cópias do portão eletrônico da garagem e da porta da casa objeto desse esbulho?
– Temos!
– Então eu proponho a troca da chave hermenêutica para encaminhar essa situação.
– Como assim?
– Sugiro monitorar o imóvel e quando ele sair, por qualquer razão que seja, adentrar na casa e lá permanecer. Com isso ocorrerá a retomada da posse.
– Mas e a mudança dele que está lá dentro?
– Vocês são pessoas honestas e trabalhadoras, não têm a menor pretensão de se apropriar do alheio, mas se o imóvel é de vocês, se está legalmente documentado, não é o fato de a mudança estar lá que vai legitimar a posse dele sobre o bem. Se vocês fossem pessoas de má índole, poderiam afirmar que foram presenteados com aqueles móveis. Mas sei que não farão isso. Resumindo: a partir do momento em que retomarem a posse do imóvel, assim que estiverem lá dentro, quem vai estar com um problema para resolver será ele!
– O senhor nos acompanha?
– Certamente!
Assim foi feito. A essas alturas já havia anoitecido e quando chegaram no local, o suspeitíssimo comprador não estava lá. Havia saído com a família para jantar – assim ficaram sabendo no retorno do mesmo. Ele esbravejou, tentou recorrer a inúmeros argumentos, mas Roberta, ciente de toda a situação, conduziu o diálogo com absoluta serenidade e firmeza.
O resultado obtido com essa troca da chave hermenêutica foi que o suspeitíssimo comprador chamou um caminhão de transporte de mudanças e retirou tudo naquela mesma noite.
Com isso se evitou o que pode ser comparado a um grande pesadelo para o casal empreendedor, pois ficariam impedidos de negociar o imóvel – o que felizmente fizeram logo em seguida – além do grande desgaste psicológico, emocional etc… a que estariam sujeitos durante os meses subsequentes.
Felizes da vida com o resultado obtido, encomendaram uma pizza para comemorar o boníssimo resultado conquistado com a mudança da chave hermenêutica, a partir da orientação de Hermeneto.
Méritos de quem orientou? Em parte, sim. Porém nada teria sido conseguido se o casal que tomou conhecimento das coisas como de fato eram não tivesse tomado a decisão de colocar em prática o que foi orientado e persistido até o final na sua consecução. Ele “deu a chave” para resolver a situação; o casal “virou a chave” e abriu a porta.
O caso da mulher que abriu mão do patrimônio e da herança – chaves de discernimento para superar a humildade desequilibrada que coarta o potencial do ser
No caso da posse do imóvel, apresentado anteriormente, Hermeneto foi chamado para auxiliar na resolução de uma situação crítica emergencial, tendo conseguido se fazer entender pelos que o chamaram, que seguiram suas orientações e obtiveram, no mesmo dia, um resultado sumamente satisfatório.
Porém não é sempre assim. Existem casos em que Hermeneto apresenta com clareza os pontos cegos presentes nas lentes de entendimento com que as pessoas vislumbram determinadas realidades, mas a compreensão da equivocidade não é imediata. E em alguns situações as pessoas estão tão enredadas nas armadilhas produzidas pelo precário entendimento que é necessário um espaço de tempo significativo para desamarrar os “nós” produzidos pelas equivocidades.
Foi o caso de Catarina, que abriu mão do patrimônio e da herança. Na situação retromencionada, da posse do imóvel, os aspectos envolvidos eram eminentemente de natureza jurídica e econômica. No caso ora em apreço, além de considerações de ordem jurídica e econômica, há também elementos de ordem espiritual.
Hermeneto foi acionado por um amigo de Catarina, Juliano, que elucidou ter a mesma incorrido em um desvio de rota que a fez lançar-se como que por um labirinto, a partir da forma equivocada de compreender e agir em relação ao próprio patrimônio e a uma herança a que fazia jus.
Em que pese tratar-se de excelente pessoa, imbuída dos mais elevados propósitos e das melhores intenções, Catarina afundou-se em uma armadilha e Juliano estava cônscio de que dependeria fundamentalmente da atitude dela a mudança do rumo das coisas. Ele buscou o auxílio de Hermeneto esperançoso de que suas contribuições na elucidação da situação alavancaria o entendimento dela e que tudo ficaria bem. Estava confiante de que isso contribuiria para Catarina se abrir para admitir os equívocos e retomar os trilhos da sensatez.
Juliano comunicou a Hermeneto que tentou alertá-la, em sede de correção fraterna, a respeito do equivocidade de sua conduta, mas não foi bem sucedido em seu intento.
Correção fraterna, na perspectiva cristã, consiste em um diálogo entre quem observa o erro com quem incorreu em equívoco – com o objetivo de corrigir fraternalmente, amorosamente, caridosamente… essa pessoa.
Assim, inconformado com a tentativa inexitosa de auxiliar Catarina a corrigir o equívoco, Juliano procurou Hermeneto solicitando-lhe sugestões sobre o que poderia fazer a respeito.
A síntese do ocorrido é que a boa senhora Catarina, mãe de um casal de filhos crescidos, dedicada intensamente a atividades de natureza religiosa, decidiu-se vender um imóvel de razoável valor e colocar o dinheiro à disposição dos filhos. Empenhada laboriosamente nas ações de cultivo espiritual, recusou-se também a participar do processo de partilha dos bens da família quando seu pai, que laboriosamente amealhou considerável patrimônio, já com mais de 90 anos, prevendo que não lhe restava muito tempo de vida, decidiu antecipar a partilha de seus bens…
Juliano havia lhe dito que poderia pagar uma taxa de administração para alguém de sua confiança – que poderia ser um dos irmãos – para representá-la, cuidar de seus interesses respectivos à herança. Mas ela fez questão de abrir mão desse direito e determinou que tudo o que referisse a esse assunto fosse tratado diretamente com o casal de filhos. Quanto ao patrimônio que Catarina amealhou laboriosamente e também decidiu passar o controle aos filhos, foi aconselhada por Juliano a manter o administração do mesmo, porém ela deu a entender que já tinha decidido em caráter definitivo que os filhos geririam tais bens, mantendo-se apenas com o apartamento modesto em que morava, o carro popular com mais de uma década de uso e os parcos recursos de sua modesta aposentadoria.
Juliano a havia instado ainda a repensar tais posturas, pois sendo o objetivo maior de sua vida a dedicação ao cultivo espiritual e o auxílio a outras pessoas para iniciarem-se na senda espiritual, asseverou-lhe que seria mais sensato manter-se na posse de seus recursos e investir parte dos mesmos no incremento dessas atividades espirituais, como foi o caso, entre tantos outros exemplos, de Santa Paula de Roma, que financiou São Gerônimo no árduo empreendimento espiritual a que se dedicou, tendo como um de seus resultados a tradução da bíblia do grego para o latim, conhecida como vulgata. Ela, porém, se manteve irredutível…
Juliano esclareceu a Hermeneto que considerava um fato importante a ser destacado em relação a essa situação que os filhos de Catarina foram muito bem educados e se tornaram pessoas altamente qualificadas, tornando-se muito bem sucedidos financeiramente.
Hermeneto ponderou a respeito de tudo isso e lhe ocorreu a seguinte analogia, que apresentou a Juliano:
– A atitude dessa boa senhora me parece análoga a de uma pessoa que decidiu doar um dos rins para o filho e um dos pulmões para a filha, retirando-os e depositando-os em um banco de órgãos. E que, questionada a respeito da razão de fazê-lo, afirmou que não necessitava do par, que com apenas uma unidade de cada desses órgãos poderia sobreviver. Inquirida ainda a respeito da necessidade ou não, por parte os filhos, daquela doação, teria respondido: “Eles não precisam, mas se um dia precisarem, estarão lá.” Juliano afirmou:
– Nossa, que forte! De fato, é possível sobreviver com apenas um rim e um pulmão, porém não é sensato se desfazer de algo que a natureza, o bom Deus, concedeu, pois essa atitude geraria uma precarização do viver de quem fizesse tal doação…
– Correto! Os bens que recebemos licitamente consistem também, como os órgãos saudáveis com que fomos dotados, fruto de graça divina. E renunciar às graças divinas de forma despropositada é algo que não se coaduna com a razoabilidade e a sensatez!
– Compreendi.
– A lei natural, corroborada, nesse aspecto, pela lei civil, estabelece que quem amealhou um patrimônio tem o direito de usufruir os bens adquiridos. Não é algo ilícito doá-los a terceiros, porém o curso natural da vida como que estabelece, de forma consuetudinária (conforme os costumes) que a pessoa somente destine seus bens a terceiros mediante a morte, sendo o instrumento hábil para tal o testamento. Caso não se faça testamento, a lei civil estabelece o processo de inventário para direcionar tais bens a quem de direito. E a doação de órgãos, para quem desejar fazê-lo, também se dá mediante a morte, exceto nos casos em que a pessoa se disponha a fazê-lo em caso de necessidade imperiosa…
– Sim, o senhor foi muito feliz na analogia. Assim como não se configura razoável, à luz do bom senso, doar órgãos a quem não os necessita, do mesmo modo não o é antecipar a partilha de bens, estando-se estatisticamente nos meados da existência…
– Caro Juliano, penso que essa analogia se constitui uma boa chave de discernimento, apropriada para ser mostrada à sua amiga Catarina. Auguro-lhe sucesso nesse mister.
– Obrigado! Fico muitíssimo grato por sua disposição em contribuir!
– É um prazer! Porém, pensando bem, me parece necessário algo mais para que você consiga ser bem sucedido em seu intento.
– Sim?
– Você disse que ela é uma pessoa esmeradamente dedicada a atividades espirituais… Me parece apropriado agregar à analogia e breve análise jurídica apresentadas acima algumas considerações de ordem espiritual, para auxiliá-la a enfrentar essa situação.
– Ah, sim, esqueci de lhe falar: eu já abordei o ocorrido sob esse prisma também. Evoquei o episódio do filho pródigo, que pediu ao pai a antecipação da herança… Dei-lhe a entender que da forma como atua está como que induzindo os filhos em erro, pois ela está deixando de usufruir de seus bens transferindo-os prematuramente aos filhos, sem que eles tenham a necessidade disso…
– Certo, mas há algo muito me parece ainda mais relevante!
– O que lhe ocorreu?
– A parábola dos talentos.
– Ah, é mesmo!
– Em Lucas, capítulo 19, versículos 12 e seguintes, Jesus deixou bem claro o que nos cumpre fazer com os recursos que recebemos… No caso de Catarina, se mantiver sua postura, estará agindo de forma ainda mais censurável que aquele que enterrou o talento recebido para devolvê-lo. Pois além de não fazê-los frutificar – o que consiste, conforme asseveram os ensinamentos dessa parábola, em dever do cristão – ela está transferindo os recursos para terceiros… Tal atitude consiste em grave omissão, em escusa de cumprir o que é de dever…
– Vou esclarecer isso para ela!
– Penso ainda ser importante auxiliá-la a vislumbrar o que pode mudar em sua vida se dispuser-se a trocar essa chave de discernimento.
– Sim, já pensei nisso também. Vou tentar ajudá-la. Em primeiro lugar, sei que ela é uma pessoa consciente e disposta a colocar o que sabe que é certo como prioridade. Penso que esse estado de paz com a própria consciência é a primeiro grande ganho.
– Certo. É importante ainda considerar a possibilidade de ela se sentir constrangida, receosa de apresentar aos filhos a mudança de postura após “deixar correr” dessa forma por todo esse tempo.
– Sim. Mas pelo conhecimento que tenho, os filhos dela são boas pessoas – e ela, uma pessoa humilde. Penso que vai reconhecer o equívoco e “correr atrás” para restabelecer as coisas das forma como devem ser, se conseguir compreender com total clareza a situação – e penso que tudo o que abordamos nesse diálogo, que repassarei a ela oportunamente, é mais que suficiente para isso. Acredito que ela terá, sim, coragem para enfrentar a situação.
– Outro ponto: como você vislumbra que ela poderia utilizar os recursos que a princípio estaria dispensando, repassando prematuramente aos filhos, para potencializar aquilo que consiste em sua missão de vida?
– Penso que ela pode dialogar com pessoas de confiança para fazer render os recursos, mantendo o capital, e aplicar os rendimentos na obra a que se dedica.
– Certo. Muitas pessoas fizeram isso ao longo da história da Igreja…
– Sim.
– E me parece que há mais alguns pontos que podem ser agregados: Jesus ensinou em Lucas 11, 33: “Ninguém acende uma lâmpada e a põe em lugar oculto ou debaixo da amassadeira, mas sobre um candeeiro, para alumiar os que entram.” Ela é uma pessoa iluminada, dedicada ao cultivo espiritual… Não há porque se “encolher”, se “apequenar”, coartar-se, cercear a si mesma… E em João 10,10: “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância.” Ainda em João 8,31-32: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”.
– Quantas luzes espirituais!
– Sim, penso que você terá grandes chances de contribuir com ela para superar a armadilha em que se enredou. Uma pessoa com essas características bem provida de recursos pode potencializar muito aquilo que faz! Espero que ela consiga superar esse equívoco, “virar a chave”… Tem um grande potencial para fazer muitas coisas boas: contribuir com os necessitados; potencializar o próprio apostolado a que se dedica; apresentar-se com outra postura diante de pessoas que nela possam se inspirar, deixando de ser rotulada como “esquisita” e passando a ser respeitada… Enfim, são muitas as possibilidades…
– Que bom, que bom! Penso que, efetivamente, Catarina adotará as chaves hermenêuticas que o senhor deslindou ao longo deste diálogo e desse modo abrirá as portas de sua existência à linda realidade que o senhor descreveu. Ela merece, é uma pessoa maravilhosa, uma filha de Deus muitíssimo especial, que dedica sua vida a ele, à obra da evangelização… Não tem porque ela ficar rastejando em uma vida limitada por tantas precariedades, sendo criticada, tomada até como “louca” por familiares insensíveis…
– Que Deus o abençoe em seu propósito!
Juliano partiu, esperançoso, pensando na forma mais adequada de comunicar tudo aquilo à dileta amiga. E determinou-se também a incluir em suas orações o pedido para que o Espírito Santo a iluminasse para fazer o que é correto também nesse aspecto do viver.